Você foi traído? Calma, tem solução

A traição por alguém próximo, seja um amigo, familiar ou parceiro amoroso, é uma das experiências humanas mais dolorosas. Mais do que um simples desapontamento, ela abala as fundações da nossa segurança emocional e pode deixar cicatrizes profundas na nossa psique. Entender o estrago mental que a traição causa é o primeiro passo para processar essa dor e, eventualmente, curar-se.

Quando somos traídos, o primeiro impacto é frequentemente um choque. O mundo como o conhecíamos, e a pessoa em quem confiávamos, de repente se mostram diferentes. Essa quebra abrupta de confiança ativa regiões cerebrais ligadas à dor física. De fato, um estudo liderado por Ethan Kross e publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) em 2011 utilizou ressonância magnética funcional (fMRI) para demonstrar que a rejeição social e a dor da traição ativam as mesmas áreas do cérebro que são estimuladas pela dor física. Isso significa que a dor emocional da traição não é “apenas coisa da sua cabeça”; ela tem uma base neurológica real e sentida intensamente.

A traição desencadeia uma poderosa resposta de estresse. O corpo libera hormônios como cortisol e adrenalina, preparando-nos para “lutar ou fugir”. No entanto, quando a ameaça é emocional e persistente, como na traição, essa resposta pode se tornar crônica. Pesquisas publicadas no Journal of Social and Personal Relationships (por exemplo, trabalhos de S. M. Smith e colaboradores após 2010) indicam que indivíduos traídos frequentemente experimentam sintomas semelhantes aos do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Estes podem incluir pensamentos intrusivos sobre a traição, pesadelos, flashbacks, hipervigilância e uma sensação constante de estar em perigo.

A capacidade de regular as emoções também é severamente comprometida. A pessoa traída pode oscilar entre tristeza profunda, raiva intensa, confusão e ansiedade. A confiança, um pilar dos relacionamentos saudáveis, é estilhaçada. Isso não afeta apenas a relação com o traidor, mas pode generalizar-se, tornando difícil confiar em outras pessoas no futuro. Um artigo de revisão de 2016 na revista Current Opinion in Psychology de autoria de Jennifer M. Tomlinson explora como as violações de confiança impactam a disposição de um indivíduo para confiar novamente, destacando a dificuldade em reconstruir essa capacidade fundamental para as interações sociais.
Frequentemente, a traição nos leva a questionar nosso próprio julgamento e valor. “Como não percebi os sinais?”, “O que fiz de errado?”, “Será que não sou bom o suficiente?”. Essas perguntas podem minar a autoestima e a autoimagem. A pessoa pode começar a duvidar de suas percepções e da sua capacidade de avaliar o caráter dos outros.

Além disso, a mente tende a ficar presa em um ciclo de ruminação, repassando incessantemente os eventos da traição, tentando encontrar sentido no que aconteceu. Embora um certo grau de processamento seja necessário, a ruminação excessiva, como apontado em diversos estudos sobre regulação emocional e trauma (por exemplo, pesquisas sobre os efeitos da ruminação em vítimas de adversidades, publicadas em periódicos como Clinical Psychology Review a partir de 2010), pode prolongar o sofrimento e dificultar a recuperação, mantendo a ferida aberta e a resposta ao estresse ativa.

Apesar do estrago profundo, a recuperação é possível. O primeiro passo é reconhecer e validar a dor. Buscar apoio social em amigos e familiares que ofereçam um ambiente seguro e sem julgamentos é crucial. A terapia profissional, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) ou a terapia focada nas emoções, pode ser extremamente benéfica. Essas abordagens ajudam a processar o trauma, desafiar pensamentos negativos e disfuncionais, desenvolver estratégias de enfrentamento saudáveis e, gradualmente, reconstruir a confiança em si mesmo e, eventualmente, nos outros.

Um estudo publicado em 2018 no Journal of Consulting and Clinical Psychology por pesquisadores como S.M. Stith e colaboradores, embora focado em infidelidade, discute abordagens terapêuticas que podem ser aplicadas a diversas formas de traição, enfatizando a importância de trabalhar tanto as feridas individuais quanto, quando aplicável e desejado, a dinâmica relacional.
A traição por pessoas próximas é uma ferida que atinge o cerne do nosso ser, desestabilizando nossa mente e emoções. A ciência confirma a severidade desse impacto, comparando-o à dor física e identificando consequências como sintomas de TEPT e desregulação emocional. No entanto, com tempo, apoio adequado e um esforço consciente de cura, é possível superar essa experiência devastadora e emergir mais forte e resiliente.

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