COLUNA | Após ter feito vários pedidos de cassação contra outros deputados, Glauber Braga começa a provar do próprio veneno

Não sei se seria adequado chamar essa situação de “karma” ou qualquer outra coisa semelhante. Contudo, não dá para ignorar a ironia da coisa toda. O deputado estadual, Glauber Braga (Psol-RJ) está cada vez mais perto de ter seu mandato cassado e ele e seus aliados estão perdendo noites de sono tentando encontrar uma forma de evitar isso. O parlamentar até mesmo orquestrou uma greve de fome durante dias que, sinceramente, foi digna da famosa vergonha alheia (ou “foi cringe” como dizem os mais jovens). Mas a ironia dessa situação toda é que Glauber Braga, em diversos momentos, fez uma grande barulheira pedindo a cassação de colegas deputados, pelos mais diversos motivos, mas sem sucesso. Pois bem: agora parece que o jogo virou.

Glauber Braga teve o parecer do Conselho de Ética da Câmara aprovado por 13 votos a 5, recomendando a cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar, em decorrência de um episódio acontecido em 16 de abril de 2024, quando o deputado empurrou e chutou um militante do MBL após ofensas à sua mãe falecida. O processo foi motivado por representação do partido Novo e considera que Braga extrapolou os limites da imunidade parlamentar ao reagir fisicamente a provocações no plenário. Em abril de 2025, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) rejeitou o recurso apresentado por Braga, por 44 votos a 22, mantendo o avanço da recomendação de perda de mandato. Caso a CCJ não interceda novamente, a decisão final caberá ao Plenário da Câmara, onde são necessários ao menos 257 votos favoráveis para efetivar a cassação.

Em sua defesa, Braga alegou legítima defesa e denunciou “perseguição política com desvio de finalidade”, acusando o MBL e o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, de articular o processo como forma de silenciá‑lo. O deputado chegou a iniciar uma greve de fome, jejuando por nove dias no interior do Congresso, para pressionar por adiamento da votação em plenário, obtendo de Hugo Motta o compromisso de postergar a deliberação por 60 dias. Aliados de Braga enxergam no pedido de suspensão de mandato feito contra outro deputado um precedente que pode beneficiá‑lo, e buscam brechas regimentais para reverter a cassação. Parlamentares de esquerda classificam o episódio como tentativa de cercear a liberdade de expressão e advertiram para o risco de criar um “precedente perigoso” que puna a vítima em vez de proteger o decoro.

Muita coisa ainda pode acontecer até termos um desfecho para essa história, mas as cartas estão contra Glauber Braga. Algumas pouquíssimas alternativas estão sendo avaliadas e usadas para evitar a cassação, mas, caso não dê certo, o destino do mandato do deputado estaria praticamente selado. Assim, fica impossível não pensar na ironia disso tudo.

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