Uma jovem russa de 22 anos, prestes a dar à luz na Argentina, foi peça-chave para a descoberta de uma rede de tráfico humano ligada à seita Ashram Shambala, que operava entre a Europa e a América do Sul. A investigação teve início quando profissionais do Hospital Zonal Doutor Ramón Carillo, em San Carlos de Bariloche, notaram o comportamento estranho das duas mulheres que a acompanhavam. Nervosas e hesitantes em responder perguntas, elas deixaram o local às pressas, o que despertou a suspeita de um possível caso de tráfico de pessoas.
A denúncia levou a uma ação policial que resultou na prisão de 15 pessoas no último fim de semana. A organização criminosa teria origem em Montenegro e operava uma rota com destino ao Brasil, mais especificamente à cidade de São Paulo. Segundo o Ministério da Segurança Nacional da Argentina, as prisões ocorreram nos aeroportos de Bariloche e Jorge Newbery, após um intenso trabalho de monitoramento e inteligência conduzido pela Polícia Federal Argentina (PFA) e pela Polícia de Segurança Aeroportuária (PSA).
Investigações e prisões nos aeroportos
Após o alerta no hospital, a Sede Descentralizada de Bariloche destacou agentes para vigiar discretamente a jovem grávida. Quando ela voltou para o parto, os detetives identificaram as duas mulheres suspeitas, de 40 e 44 anos, e descobriram que ambas estavam com a permanência legal no país vencida. Elas foram detidas, mas liberadas alguns dias depois, enquanto as investigações prosseguiam.
No entanto, a situação escalou com a prisão de outros suspeitos nos aeroportos. No Aeroporto de Bariloche, um grupo de seis mulheres e um homem foi identificado na sala de embarque. O homem, apontado como um dos líderes da seita e condenado a 11 anos de prisão na Europa, tentou se ferir com uma lâmina de barbear ao ser detido. Com ele, foram encontrados comprimidos testados positivamente para cocaína.
Simultaneamente, no Aeroporto Jorge Newbery, três homens russos e três mulheres – de nacionalidades mexicana, brasileira e russa – foram detidos ao tentarem embarcar para São Paulo. Segundo o Ministério da Segurança, todas as passagens haviam sido compradas por uma única agência de viagens, e os suspeitos seguiam a mesma rota internacional.
Seita e exploração sexual
A seita Ashram Shambala, apontada como responsável pela rede de tráfico, é conhecida por rituais de submissão sexual e exploração de vítimas em orgias. A principal suspeita das autoridades é que mulheres estivessem sendo levadas para o Brasil sob falsas promessas e, posteriormente, exploradas pela organização.
A jovem russa que denunciou o caso permanece sob custódia policial após dar à luz um menino. A investigação, liderada pelo promotor Fernando Arrigo, segue em andamento para determinar a extensão da rede criminosa e se outras vítimas foram submetidas a abusos e exploração sexual.