Professora trans relata agressões de PMs em Porto Alegre: “Eu só comecei a apanhar”

Na primeira noite de carnaval em Porto Alegre, um confronto entre a Brigada Militar (BM) e frequentadores do bairro Cidade Baixa resultou na agressão de uma professora trans de 22 anos. O incidente, que ocorreu entre a noite de sexta-feira (28) e a madrugada de sábado (1º), gerou repercussão após vídeos de agressões feitas por policiais se espalharem nas redes sociais. As imagens mostram a professora Luan Gonçalves da Cunha sendo imobilizada e agredida por pelo menos seis PMs na Rua General Lima e Silva. Em um dos momentos, um policial coloca o joelho no pescoço de Luan enquanto outro a agride com socos e spray de pimenta.

“Eu fiquei por uns 4, 5 minutos apanhando, sem fazer nada, levando socos e chutes. Eu estava apenas gravando a cena, e isso parece ter incomodado eles”, relatou Luan à RBS TV.

Em nota oficial, a Brigada Militar afirmou que houve uma “desordem envolvendo diversas pessoas que estavam obstruindo a via”, justificando que “ações foram necessárias para controlar as agressões e restabelecer a ordem e a segurança pública”.

Luan, no entanto, contestou a versão dos policiais: “Me jogaram no chão e começaram a me espancar brutalmente. Não houve resistência nem discussão, simplesmente comecei a apanhar”, rebateu.

Após a abordagem, Luan e outros envolvidos foram detidos e levados à 2ª Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (2ª DPPA), sendo posteriormente liberados após assinarem termos circunstanciados. A delegada Andrea Magno afirmou que o caso será apurado em um procedimento policial, pois existem versões contraditórias sobre os fatos.

Relatos de outras testemunhas também apontaram violência policial durante a abordagem. A estudante Adriane Sehn afirmou ter sido agredida, destacando a possível influência racial na intensidade das agressões: “Acredito que a Luan foi mais agredida por causa da cor da pele”, disse.

Theo Dalla, amigo de Luan, comparou o episódio a uma “sessão de tortura”. “Era uma menina de cerca de 50 kg sendo dominada por três ou quatro policiais, com o joelho no pescoço, gritando enquanto estava rendida. Isso foi algo muito similar ao que ocorreu com George Floyd”, declarou.

Leia a nota da Brigada Militar na íntegra:
“A Brigada Militar, através do 9º BPM, informa que na madrugada deste sábado (1º), no bairro Cidade Baixa, durante o transcorrer da Operação Carnaval, ocorreu uma desordem envolvendo diversas pessoas que estavam obstruindo a via, sendo necessária a intervenção dos policiais militares no local.

Diante da hostilidade crescente e da tentativa de invasão do perímetro policial por populares, foram necessárias ações com o intuito de controlar e conter as agressões, a fim de restabelecer a ordem e a segurança pública, bem como preservar a integridade das pessoas, do patrimônio, das guarnições e de toda população presente no local.

Informamos que, de imediato, foi instaurado Inquérito Policial Militar para apurar os fatos e a Corregedoria-Geral da Brigada Militar está acompanhando as investigações sobre o caso”.

Com informações G1

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