Favoritos ao papado enfrentam críticas por histórico em casos de abuso na Igreja

Às vésperas do início do conclave que escolherá o sucessor do Papa Francisco, previsto para 7 de maio, uma denúncia pública lançou dúvidas sobre os dois principais favoritos à liderança da Igreja Católica. Durante uma coletiva no Vaticano, Anne Barrett Doyle, diretora da ONG Bishop Accountability, afirmou que os cardeais Pietro Parolin, da Itália, e Luis Antonio Tagle, das Filipinas, não seriam escolhas adequadas devido ao papel que desempenharam — ou deixaram de desempenhar — no enfrentamento a abusos sexuais dentro da Igreja. Segundo Doyle, Parolin, atual secretário de Estado do Vaticano, manteve sigilo sobre documentos e informações envolvendo casos de abuso, enquanto Tagle teria sido omisso durante sua liderança na Igreja filipina.

Doyle destacou que Parolin nunca liderou uma diocese e, mesmo assim, teve papel central no acobertamento de casos, já que todas as solicitações de informação sobre abusos passam por seu gabinete. Ela citou como exemplo o silêncio da Santa Sé diante de pedidos de cooperação da Comissão Real da Austrália, país fortemente atingido por escândalos de pedofilia clerical. Quanto a Tagle, embora não haja provas de encobrimento direto, a ONG aponta que o ambiente repressivo nas Filipinas e a falta de ações concretas de sua parte dificultaram a denúncia por parte das vítimas.

Outras vozes também reforçaram as críticas. O padre irlandês Shay Cullen, que atua há décadas nas Filipinas, disse que a liderança de Tagle contribuiu para a continuidade do silêncio e da impunidade. Já Michal Gatchalian, única vítima que apresentou queixa pública no país em 2002, relatou que as pressões e ameaças contra vítimas continuam até hoje. Apesar disso, a ONG sugeriu um novo nome como possível alternativa ao papado: o cardeal Pablo “Ambo” David, também filipino, conhecido por defender os direitos humanos e enfrentar abusos.

Em meio às denúncias, há também vozes contrárias às críticas. O jesuíta Hans Zollner, especialista em abuso na Igreja, classificou as acusações contra Parolin como injustas, argumentando que o Vaticano seguiu os canais diplomáticos adequados. Enquanto isso, o conclave se aproxima com clima de tensão e expectativa sobre quem reunirá os 89 votos necessários para liderar a Igreja em um dos momentos mais sensíveis de sua história recente.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.