Com o Brasil sendo o maior país católico do mundo, uma pergunta surge nos círculos eclesiásticos: um brasileiro poderia, um dia, se tornar Papa? Especialistas e membros do clero afirmam que, embora possível, a eleição de um pontífice brasileiro ainda enfrenta barreiras históricas e políticas – mas não pode ser descartada no longo prazo.
O que dizem os cardeais brasileiros?
Em entrevista ao Vatican News, o Cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo e considerado um dos nomes mais influentes do Brasil no Vaticano, comentou sobre o tema:
“A Igreja é universal, e o Espírito Santo pode surpreender. O Papa Francisco já quebrou o padrão ao ser o primeiro papa das Américas. Não há impedimentos, mas a escolha depende muito mais da unidade da Igreja do que da nacionalidade.”
Já o Cardeal Sérgio da Rocha, ex-arcebispo de Salvador e membro do Dicastério para os Bispos, destacou em um debate na Pontifícia Universidade Gregoriana que:
“O Brasil tem uma vitalidade católica enorme, mas o papado não é uma questão geográfica. O importante é que o futuro papa, seja de onde for, promova a fé e a unidade da Igreja.”
Barreiras e Possibilidades
O professor de História da Igreja da PUC-SP, Pe. José Oscar Beozzo, explica que a tradição ainda favorece europeus:
“Dos 266 papas, apenas três vieram de fora da Europa (um africano no século V, um sírio no século VIII e o Papa Francisco). A Cúria Romana ainda tem forte influência italiana, mas o crescimento da Igreja na África e na América Latina pode redefinir isso nas próximas décadas.”
O que seria necessário?
Para Paulo César Bezerra, teólogo e autor de “A Igreja no Século XXI”, um candidato brasileiro precisaria:
Ter forte atuação em órgãos do Vaticano (como cardeais que já trabalham em congregações romanas).
Ser um mediador reconhecido globalmente, capaz de lidar com divisões internas.
Ter perfil reformista ou de unidade, como ocorreu com João XXIII (pastoral) ou Bento XVI (teólogo).
Enquanto um papa brasileiro não se concretiza, o país segue como o maior “celeiro de fiéis” do catolicismo – fator que, segundo analistas, pode pesar em futuros conclaves. Como disse o Papa Francisco em 2018: “A Igreja não é europeia, é de todos. E o Espírito sopra onde quer.”
Fonte das citações:
Declarações do Cardeal Scherer (Vatican News, 2023).
Palestra do Cardeal Sérgio da Rocha (Gregoriana, 2022).
Análise do Pe. Beozzo (PUC-SP, 2021).
Livro “A Igreja no Século XXI” (Ed. Paulinas, 2020).
