Língua esbranquiçada e mau hálito são características da saburra bucal

Por Simone Lemos | Jornal da USP

A saburra bucal, mais especificamente lingual, pode variar de espessura e coloração. Mas por que ela ocorre e apresenta colorações diferentes? Camila Gallo, professora da disciplina de Estomatologia Clínica da Faculdade de Odontologia da USP, explica que sua coloração varia entre o branco e o amarelado e, em alguns casos, tem colorações mais pigmentadas entre o acastanhado e o enegrecido. Essa placa está localizada no dorso da língua, que é a superfície de cima da língua, onde se encontram papilas de proteção e papilas gustativas. Na região do dorso da língua, ela é mais vista na parte posterior da língua.

Uma característica importante dessa placa é que ela pode ser removida com uma escova de dentes ou com raspadores. “Ela não é uma doença em si, ela pode ser o sinal de algumas alterações que podem estar acontecendo nessa pessoa. Ela é formada por acúmulo nessa localização do dorso da língua, que é uma área mais áspera naturalmente por conta da presença das papilas filiformes, que são as papilas de proteção, e aí é uma proteção mecânica aos estímulos da fala, da mastigação etc. E essa região, por ser mais rugosa e apresentar também uma maior descamação, acumula células descamadas, muco, saliva, bactérias e alimentos que ficam depositados nessa área mais posterior da língua, que também está menos sujeita ao atrito da fala, da mastigação, dos processos fisiológicos que acontecem na cavidade oral.”

A saburra pode ser observada em qualquer pessoa saudável e é comum acontecer. A quantidade de saliva na boca pode contribuir para o problema. “Situações agora já não saudáveis, em que o paciente tem deficiência da produção de saliva, tem hipossalivação, ele vai ter maior acúmulo de placa e presença de saburra e várias situações estão relacionadas à diminuição da salivação, desde doenças autoimunes, por exemplo, mas que são bem pouco comuns, e a outros fatores como desidratação, alcoolismo, uso de certos medicamentos que diminuem o fluxo salivar, diabetes que contribuem para a espessura dessa saburra lingual.”

Vários fatores podem influenciar na pigmentação dessa placa. Pessoas que consomem muito café, chá do tipo mate, chá preto, chá verde podem pigmentar essa placa, deixando-a com uma coloração variando do amarelado para o acastanhado e, eventualmente, até enegrecido. A especialista lembra que o tabagismo também contribui para pigmentar essa placa. Além do mau hálito, quem tem saburra na língua também pode, ocasionalmente, ter a sensação de alteração do paladar e sentir um sabor desagradável na boca.

Mais propensos: crianças e idosos

O problema pode acontecer em qualquer idade, mas crianças e idosos são os mais propensos a apresentar a placa, destaca Camila. “Ela está muito ligada à questão da aptidão para a realização da higiene oral. As crianças estão aprendendo esse autocuidado da higiene oral. A indicação é de realização da higiene oral com a supervisão dos familiares, dos responsáveis por essa criança, porque ela talvez não tenha essa autonomia para fazer essa remoção da maneira adequada e ela pode acumular mais por não saber fazer essa remoção sozinha. A mesma coisa a gente observa na população mais idosa, porque eles diminuem a aptidão para a realização da higienização oral e muitas vezes, com mais idade, essa pessoa está com mais situações e outros diagnósticos de outras condições que vão influenciar na quantidade de saliva, que é um fator que modula a espessura dessa placa acumulada no dorso da língua.” A higienização da língua para remoção da saburra deveria ser feita após as principais refeições, juntamente com a escovação dos dentes. A dentista explica que o uso do enxaguante bucal não deve ser utilizado sem a indicação de um profissional. “O uso de enxaguante bucal, ele deve ser avaliado a cada caso, ele não é um recurso que deve ser utilizado de maneira genérica ou sem uma indicação específica, porque a remoção da saburra é mecânica e não química, que seria a ação do enxaguante bucal.”

Para quem sente enjoo durante a limpeza da língua e deseja minimizar esse mal-estar, o uso do raspador é melhor do que o da escova de dentes na higienização. “De maneira geral, é orientado que a pessoa inicie o procedimento até onde ela tem tolerância para realização sem reflexo de ânsia, até que ela consiga ir para áreas mais posteriores da língua. O raspador, na realidade, tende a causar menos esse reflexo, por conta de não entrar em contato também com a região de palato mole.”

Quando a higienização é realizada de forma correta e, ainda assim, há halitose e não se consegue remover a placa, é bom lembrar que outros fatores podem causar o problema. Isso é um sinal de grande alerta, porque pode haver outras condições que mereçam a investigação, como, por exemplo, infecções fúngicas como a candidíase.

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