Família de jovem transplantada denuncia alunas de medicina por vídeo irônico; polícia abre inquérito

A Polícia Civil de São Paulo instaurou um inquérito por injúria após a família de Vitória Chaves da Silva, jovem que faleceu em fevereiro em decorrência de uma cardiopatia congênita, denunciar duas estudantes de medicina por publicarem um vídeo com comentários considerados ofensivos e irônicos sobre sua condição de saúde.

O caso ganhou repercussão após Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano publicarem um vídeo no TikTok comentando que a paciente teria passado por três transplantes de coração no Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, e sugerirem que um deles falhou por descuido da própria paciente, insinuando que ela não teria seguido corretamente a medicação prescrita. A gravação gerou revolta nos familiares de Vitória, que exigem retratação.

Segundo o delegado Marco Antonio Bernardo, do 14º Distrito Policial, a mãe da jovem foi ouvida e, com base no depoimento, foi determinado o prosseguimento do inquérito. A investigação foi instaurada como ação penal privada, que exige que a parte ofendida apresente queixa-crime para dar seguimento ao processo judicial.

O vídeo, publicado no dia 17 de fevereiro — nove dias antes da morte da jovem por choque séptico e insuficiência renal —, não menciona diretamente o nome de Vitória, mas os familiares garantem que a história narrada se refere claramente a ela. A irmã da jovem, Giovana Chaves, afirma que as estudantes sequer conheceram Vitória e que suas declarações são infundadas e ofensivas.

O conteúdo foi removido das redes após a repercussão negativa, mas causou grande indignação. Em um trecho da gravação, uma das alunas afirma: “Ela transplantou e não tomou os remédios que deveria tomar, o corpo rejeitou e teve que transplantar de novo, por um erro dela”. Em outro momento, a dupla ironiza: “Essa menina está achando que tem sete vidas”.

A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), responsável pelo InCor, declarou que as estudantes não são alunas da instituição, mas sim de outros cursos de medicina, e estavam no hospital para um curso de extensão de curta duração. A FMUSP também reiterou que repudia qualquer conduta que desrespeite pacientes ou viole princípios éticos.

O caso também está sendo analisado pelo Ministério Público de São Paulo, que o encaminhou ao 4º Promotor de Justiça de Direitos Humanos da capital. Até o momento, o MP não divulgou parecer oficial.

Os familiares de Vitória, além da queixa criminal, estudam entrar com uma ação civil por danos morais. Eles destacam que a jovem sempre seguiu as orientações médicas e que o segundo transplante falhou por complicações médicas conhecidas, como a doença do enxerto, e não por negligência, como sugerido no vídeo.

A polícia informou que as estudantes serão chamadas para prestar depoimento nos próximos dias. Representantes do hospital também deverão ser ouvidos no inquérito.

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