Luz intensa em academias pode interferir negativamente na pressão arterial após treino

Por Guilherme Ikem | Jornal da USO

É cada vez mais comum academias modernas que se assemelham a baladas – com luzes mais baixas, cores vibrantes e ambientes estimulantes. Pode parecer apenas um detalhe estético, mas estudos recentes sugerem que a intensidade da luz pode ter efeitos além do estímulo visual e influenciar diretamente a resposta do corpo ao exercício, especialmente a regulação da pressão arterial e a recuperação cardiovascular pós-exercício. Um estudo do Laboratório de Hemodinâmica da Atividade Motora (Laham) da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP investigou como a intensidade da luz pode interferir na resposta da pressão arterial após a realização de uma sessão de exercício aeróbico.

Os resultados revelaram que a luz intensa aumentou a pressão arterial sistólica e impediu a diminuição da pressão arterial diastólica e média, fenômeno conhecido como hipotensão pós-exercício, que é uma resposta fisiológica considerada benéfica para a saúde. Impedir a diminuição da pressão arterial pós-exercício faz com que a sobrecarga do coração permaneça mais elevada, o que pode ter implicações para pessoas com problemas cardiovasculares. Isso sugere a necessidade de se considerar a iluminação do ambiente na prescrição de exercícios.

Participaram do estudo 20 homens saudáveis entre 20 e 39 anos, não fumantes, que não usavam medicamentos ou complementos alimentares. Eles realizaram, em ordem aleatória, duas sessões experimentais, sendo uma com luz intensa e outra na penumbra. As sessões foram realizadas com um intervalo de 7 dias e os participantes foram instruídos a manter rotinas semelhantes, evitar esforço físico e abster-se de cafeína e álcool por 24 horas antes de cada sessão. Eles também precisavam jejuar por 2 horas antes da chegada ao laboratório.

Durante as sessões, os pesquisadores aferiam pressão arterial e a frequência cardíaca dos participantes antes, durante e depois do exercício. Cada sessão consistiu de quatro períodos (linha de base, pré-exercício, exercício e pós-exercício). Após uma refeição padronizada, os participantes foram expostos à penumbra, em repouso deitado (linha de base), e, posteriormente, a intensidade da luz foi ajustada de acordo com a sessão experimental (intensa ou penumbra) e assim permaneceu até o fim da sessão.

Sobrecarga cardíaca

Os participantes, então, se exercitaram no cicloergômetro por 40 minutos e retornaram à posição deitada imediatamente após o exercício. O protocolo incluiu medições de pressão arterial e frequência cardíaca após 45 minutos de exposição à luz da sessão no período pré-exercício, além de avaliações pós-exercício feitas aos 30, 60 e 90 minutos. Para completar, a pressão arterial dos participantes foi monitorada por 24 horas após as sessões, com o uso de um monitor ambulatorial de pressão arterial.

Os dados revelaram que a luz intensa aumentou significativamente a pressão arterial sistólica e a sobrecarga de trabalho cardíaco, avaliada pelo duplo produto, ou seja, o produto da frequência cardíaca pela pressão arterial sistólica. Esse efeito foi observado no laboratório e persistiu nas primeiras três horas após o exercício.

Normalmente, a pressão arterial diminui após a execução de um exercício aeróbico, o que é um efeito benéfico em indivíduos hipertensos. Assim, os achados da pesquisa podem ter implicações clínicas importantes, especialmente para pessoas com hipertensão arterial. A hipotensão pós-exercício é importante porque seu efeito pode perdurar por horas após a atividade física, ajudando a controlar a pressão arterial. Se a luz intensa anular esse efeito, o benefício hipotensor agudo do exercício pode ser perdido. Além disso, é possível hipotetizar que a exposição constante à luz intensa durante o treinamento regular pode impedir a redução da pressão arterial associada ao treinamento aeróbico crônico e aumentar o risco cardiovascular.

Entretanto, os pesquisadores ressaltam que esse é o primeiro estudo a investigar o impacto da luz intensa sobre a hipotensão pós-exercício, de modo que seu resultado precisa ser confirmado em outras pesquisas e com outros grupos populacionais, por exemplo, nos hipertensos. Caso os resultados sejam confirmados, podem levar à recomendação de se evitar se exercitar sob luz intensa e, talvez, recomendar o treinamento na penumbra para maximizar os benefícios na redução da pressão arterial na hipertensão.

O trabalho foi conduzido por Gustavo Oliveira e Thais Marin, alunos da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, sob orientação do professor Leandro Campos de Brito, então pós-doutorando do Laham e, atualmente, pesquisador da Oregon Health & Science University. A professora Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz, da EEFE, responsável pelo laboratório, também participou como coautora. Intitulado Bright light increases blood pressure and rate-pressure product after a single session of aerobic exercise in men, o estudo foi publicado na revista Physiological Reports.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.