O mundo não está preparado para enfrentar uma nova pandemia

Cinco anos marcam a distância da pandemia de covid-19, responsável por ceifar milhões de vidas ao redor do mundo. O trauma gerado pela experiência da doença movimenta cientistas e pesquisadores de diferentes países na preparação e prevenção de uma eventual ocasião semelhante. Com mais de 700 mil mortes apenas no Brasil, a população mundial encontra-se despreparada para o impacto causado por um novo vírus e cientistas alertam que, para evitar uma possível próxima pandemia, análises sobre a natureza e os impactos do trabalho humano são necessárias.

As universidades, especialmente a Universidade de São Paulo, representam importantes polos de pesquisa científica e, durante a pandemia, foram responsáveis por importantes avanços na pesquisa e enfrentamento da covid-19. Professores como Deisy Ventura, da Faculdade de Saúde Pública da USP, do Centro de Pesquisas e Estudos de Direito Sanitário e vice-diretora do Instituto de Relações Internacionais, e Gonzalo Vecina Neto, também da Faculdade de Saúde Pública, além de fundador e ex-presidente da Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, representam a linha de frente na pesquisa do enfrentamento a novas pandemias.

Recentemente incluídos em um grupo de trabalho do Ministério da Saúde para Emergências em Saúde Pública, juntamente com pesquisadores e membros do governo, ambos reforçam o despreparo da população mundial em relação a um próximo desastre da saúde, mesmo com os aprendizados da última pandemia. “Não estamos todos preparados. Creio que nós teríamos todos os elementos para fazer uma avaliação do que deu certo, do que deu errado, adotar as salvaguardas, nos prepararmos, modificarmos nossa legislação, atualizarmos a nossa institucionalidade, mas, principalmente, ter uma política de estado de resposta às emergências no Brasil. E eu posso dizer que, em grande parte dos países, o que se seguiu ao trauma, à catástrofe, foi uma espécie de inércia”, afirma Deisy Ventura.

Capacidade de resposta

Já segundo Vecina, a capacidade de resposta brasileira a uma nova pandemia é ruim, especialmente pela falta de conhecimento em relação a sua própria biodiversidade e percepção sobre modificações na natureza, o que geraria uma péssima resposta. “Nós temos um País muito grande, com muita diversidade e não acompanhamos o que acontece na natureza. Então, nós não estamos atentos para entender o aparecimento de uma nova emergência sanitária, como foi o caso da covid-19. (…) Temos que criar uma nova condição de vigiar o que acontece na natureza e de nos anteceder na possibilidade de uma nova pandemia.”

Para isso, o professor ressalta a importância de uma intensa cobertura sobre os acontecimentos ao redor do País e do mundo. “É fundamental ter uma rede com capacidade de identificação genômica, com epidemiologistas que sejam capazes de analisar a ocorrência desses novos fenômenos, para que a gente possa se antecipar à possibilidade de uma nova pandemia. Nós temos, e eu espero que essa comissão [do governo] faça isso, prepare o Brasil, criando uma estrutura capaz de realizar esse tipo de atividade. Tem que ser uma estrutura ágil, porque tem que operar em todo o País”, defende o especialista.

Deisy também alerta para o perigo da falta de legislação frente ao surgimento de uma nova pandemia, o que atrasa uma possível reação rápida ao crescimento de mortos. “Estamos sem legislação à altura do que é uma resposta à pandemia, na qual houve, no caso da covid-19, uma imensa judicialização, então estamos numa situação de risco enorme, e eu acho que está mais do que na hora do Brasil ter uma política de Estado de resposta”, defende a professora.

Além da pesquisa, estratégias como vacinação e proteção ao meio ambiente podem atuar como preventivos de uma nova pandemia, mas, de qualquer forma, a defesa da pesquisa científica e a continuidade de descobertas sobre novas vacinas e técnicas medicinais são essenciais para a preparação da sociedade frente a um novo desastre de saúde.

Por Jornal da USP

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