Desfile de escolas de samba reafirma tradição popular de Porto Alegre

Duas semanas após o carnaval sacudir o país, Porto Alegre e região metropolitana celebraram neste fim de semana a cultura popular do samba em terras gaúchas, uma tradição de mais de oito décadas.

“A edição deste ano, em especial, reafirma a importância da realização do carnaval, porque o povo gaúcho sofreu muito no ano passado com as enchentes. Reafirma também um alento, para as pessoas que estavam tristes. Não que o carnaval seja uma panaceia, mas ela movimenta a economia, recupera a autoestima”, disse Cleber Tavares, presidente da União das Escolas de Samba de Porto Alegre e Região (Uespa), uma das duas ligas que organiza o Carnaval na capital gaúcha e cidades vizinhas.

O desfile de escolas de samba existe há mais de 86 anos, e remonta à idade da primeira escola de samba fundada em Porto Alegre, os Bambas da Orgia, que desfilou nesta noite de sábado (15).

“Temos mais de 30 escolas de samba que competem em três grupos: ouro, prata e bronze. Na semana passada, teve o desfile das escolas de samba do grupo bronze, e neste fim de semana estão desfilando os grupos prata e ouro. A maioria das escolas têm mais de 30, 50 anos de existência. E é um carnaval metropolitano, que envolve não apenas comunidades de Porto Alegre, mas também de Canoas, São Leopoldo, Viamão, Gravatí, Guaíba”, explica Tavares.

O carnaval no Rio Grande do Sul também reflete uma característica marcante do estado, que é a multiculturalidade.

“O estereótipo do gaúcho é aquela coisa ligada à colonização italiana e alemã, o que é parte da nossa formação, de fato. Mas é fundamental destacar a participação do povo negro no Rio Grande do Sul, que colocou o samba em um lugar importante da cultura”, destaca o carnavalesco.

“A gente tem uma comunidade carnavalesca fiel. As escolas são feitas majoritariamente pelo povo preto das comunidades, que vai passando geração por geração”, disse Luana Costa, presidente da Imperadores do Samba, uma das escolas mais tradicionais de Porto Alegre, com 66 anos de história.

Há cerca de 10 anos, o desfile ocorria na mesma data nacional do carnaval, mas justamente para escapar da concorrência dos gigantescos carnavais das regiões Sudeste e Nordeste do país, que atraía não apenas público, mas músicos e outros artistas gaúchos, e encarecia a cadeia produtiva do setor, com preços exorbitantes para insumos como roupas, tecidos, plumas, entre outros, a liga das escolas de samba de Porto Alegre passou a realizar a festa duas semanas após o carnaval do Rio de Janeiro, a principal referência.

“O resultado tem sido muito bom, porque ativa um turismo regional de gente que vem do interior. Nossos espaços estão sempre lotados”, celebra Tavares.

Das enchentes ao brilho

O presidente da Uespa lembra que algumas escolas de samba de Porto Alegre e região metropolitana tiveram prejuízos graves no ano passado com as inundações, que atingiram quadras das escolas, resultando em grandes perdas materiais.

Para viabilizar o carnaval deste ano, a Prefeitura de Porto Alegre investiu cerca de R$ 10 milhões, tanto para financiar as escolas diretamente, quanto para permitir a organização do evento, o que foi considerado decisivo pelos realizadores.

O Complexo Cultural do Porto Seco fica no bairro Rubem Berta, zona norte de Porto Alegre. No ano passado, durante as enchentes, o local não foi afetado diretamente e acabou cumprindo um papel crucial. Os barracões das escolas de samba serviram de base para arrecadação e distribuição de mantimentos, doações diversas, além de centro operacional da Defesa Civil para o uso de tratores e retroescavadeiras. Até um abrigo para animais domésticos chegou a funcionar em um dos barracões.

Este ano, a Imperadores do Samba apresentou o samba-enredo Encantados, sobre seres míticos que representam a rica diversidade cultural brasileira, das culturas indígenas, afro-brasileiras e nordestinas. A escola, que detém 21 títulos e é a maior campeã do carnaval, ao lado da Bambas da Orgia, tenta fazer história e se tornar a maior campeã.

O barracão da escola fica próximo ao Guaíba, no bairro Menino Deus, no centro-sul de Porto Alegre, e foi inundado no ano passado. Por sorte, instrumentos, estandartes e outros materiais emblemáticos foram salvos, mas móveis e eletrodomésticos foram perdidos.

“Nossa escola se recuperou principalmente pela garra da nossa comunidade, que se engajou em ações, eventos, parcerias e atividades com a escola”, disse Luana Costa.

*Agência Brasil

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