Beetlejuice 36 anos depois: O retorno ao limbo e o novo caos burocrático

Este giro irônico no personagem reflete a abordagem de Tim Burton, que raramente retorna a seus próprios projetos, exceto em casos como “Batman – O Retorno” e a adaptação longa de “Frankenweenie”. Neste retorno, Burton tenta justificar a presença de Beetlejuice 36 anos após o lançamento do original, explorando o conceito de um limbo onde o tempo parece estagnado.

A continuação apresenta um mundo pós-vida repleto de burocracia e repetição, contrastando com o caos irreverente do filme original. Novos personagens, como um defunto investigador interpretado por Willem Dafoe e a ex-mulher de Beetlejuice, vivida por Monica Bellucci, são mais usados para construir o tom humorístico e o universo peculiar do filme do que para avançar a trama principal.

O foco do filme está nas relações entre três gerações de mulheres — Lydia (Winona Ryder), sua madrasta Delia (Catherine O’Hara) e sua filha adolescente Astrid (Jenna Ortega) — e sua interação com personagens masculinos que buscam soluções rápidas. O filme explora como cada geração lida com a passagem do tempo, mas não se propõe a ser um “filme de mensagem”. A narrativa, por vezes, parece errática, navegando por diversas subtramas sem um foco claro.

Burton, ciente do apelo comercial ao retomar a franquia, demonstra um entusiasmo genuíno ao ressuscitar técnicas clássicas de efeitos visuais, como stop-motion e maquiagem de prostéticos. Esses elementos conferem uma consistência visual ao limbo que contrasta com a era digital predominante.

Embora seja questionável se Beetlejuice ainda tem o mesmo impacto disruptivo em 2024 como em 1988, devido ao cinismo e à familiaridade cultural atuais, o filme aborda temas como a cultura dos influenciadores digitais com uma leveza que evita se tornar uma crítica incisiva. “Os Fantasmas Ainda se Divertem” consegue capturar uma parte do charme do original, mas seu tom reflete mais o presente do que o passado.

No final, Beetlejuice se adapta ao seu novo papel burocrático e até ganha um grupo de seguidores “minions” para se alinhar às tendências atuais. A sequência resgata alguns dos elementos que fizeram sucesso no filme original, mas com uma abordagem que se encaixa no contexto contemporâneo.

 

Crítica: Leticia Raffaeli

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