A escolha do ator e sua caracterização foram alvo de críticas, especialmente por parte daqueles que conhecem a fundo a personalidade marcante do apresentador. Mesmo já tendo sua vida retratada em livros, peças e séries, esta é a primeira vez que sua história chega às telonas, trazendo uma abordagem diferente sobre um dos maiores ícones da TV brasileira.
Com quase duas horas de duração, Silvio entrega alguns momentos interessantes, mas surpreende ao centrar sua narrativa em um episódio dramático: o sequestro de Silvio em sua própria casa, em 2001. Ao escolher esse evento como eixo central da trama, o filme se afasta do tom leve e descontraído que marcou a carreira do apresentador. A tensão é o ponto forte do longa, e o diretor conduz bem esse clima de suspense, mas ao optar por esse foco, perde a oportunidade de explorar o lado mais alegre e carismático de Silvio, que tanto cativou o público ao longo de décadas.
Os fãs que esperam reviver momentos icônicos, como as interações com os jurados e as divertidas situações nos bastidores de seus programas, podem se decepcionar. O filme praticamente ignora esses aspectos mais leves, focando em diálogos tensos e reflexões que Silvio faz enquanto conversa com seu sequestrador. Embora essa abordagem traga uma perspectiva interessante, falta o brilho e a energia que caracterizavam sua presença na televisão.
A obra também deixa de fora eventos importantes da trajetória de Silvio Santos, como sua passagem pelas barcas Rio-Niterói, onde deu os primeiros passos como vendedor, ou o Carnaval de 2001, em que foi destaque na Sapucaí. Até mesmo a fundação do SBT é tratada de forma superficial, com mais ênfase na concessão do canal do que na construção da emissora que revolucionou a televisão brasileira.
Além disso, o filme comete alguns deslizes históricos, como retratar Silvio em uma relação próxima com o ex-presidente João Figueiredo antes mesmo de sua posse, o que pode incomodar os espectadores mais atentos.
Silvio traz uma visão diferente do apresentador, focada em um momento tenso e pouco explorado de sua vida. Embora essa escolha narrativa tenha seus méritos, o filme falha em capturar a essência alegre e carismática que tornou Silvio Santos um ícone nacional. Para quem busca uma cinebiografia tradicional e vibrante, o longa pode deixar a desejar. No entanto, aqueles que apreciam uma abordagem mais psicológica e sombria vão encontrar uma narrativa envolvente, apesar das liberdades criativas e dos detalhes deixados de lado.
Crítica: Leticia Raffaeli