A cidade de Três Coroas e todo o Rio Grande do Sul perderam nesta quinta-feira (23) uma heroína silenciosa. Zilma Damiani Mateus, 68 anos, faleceu no Hospital de Pronto Socorro de Canoas após lutar pela vida desde segunda-feira (20), quando foi esfaqueada ao tentar proteger a filha, Juliana Thais Mateus, vítima de feminicídio cometido pelo ex-companheiro. O crime ocorreu dentro da residência onde mãe e filha viviam, revelando uma tragédia anunciada: Juliana havia procurado a polícia três dias antes, temendo pela própria vida e de sua família.
O suspeito, que havia sido denunciado pela vítima, foi preso preventivamente na terça-feira (21) em São Leopoldo, quando buscou atendimento médico. A ONG Themis apontou falhas cruciais no sistema de proteção que poderiam ter evitado o duplo feminicídio: desde a demora na intimação do agressor até a ausência de estruturas especializadas como Delegacia da Mulher e vara judicial específica em Três Coroas.
Os números são aterradores – 265 mulheres mortas no RS entre 2022 e 2024, mais de 200 delas mães, deixando 456 crianças órfãs. Zilma se torna agora mais um nome nessa estatística cruel, não como vítima direta, mas como mártir da proteção materna. Seu ato de coragem extremo – colocar o próprio corpo entre a filha e o agressor – ecoa como denúncia silenciosa de um sistema que continua falhando com as mulheres gaúchas.
Enquanto o estado lamenta mais esta perda, familiares e amigos se preparam para o velório de Zilma, marcado para esta sexta-feira (24). A tragédia reforça o apelo urgente por políticas efetivas de combate à violência de gênero, transformando a dor da família Mateus em combustível para mudanças que protejam outras mulheres do mesmo destino.