Você já parou para se perguntar por que algumas pessoas têm sangue tipo A, outras tipo B, AB ou O? Ou por que existe o famoso fator Rh, que pode ser positivo ou negativo? Esses detalhes, que hoje são essenciais em transfusões de sangue e na medicina, têm raízes profundas na história evolutiva da humanidade — e revelam como nosso organismo se adaptou para sobreviver a ameaças invisíveis: as doenças.
Um código genético antigo
A existência de diferentes tipos sanguíneos é resultado de mutações genéticas que ocorreram ao longo de milhões de anos. O sistema mais conhecido, chamado ABO, foi descoberto no início do século XX, mas sua origem remonta aos nossos ancestrais mais antigos.
Pesquisadores acreditam que o tipo O é o mais antigo, presente nos primeiros humanos. Já os tipos A e B surgiram posteriormente, a partir de alterações genéticas que modificaram a superfície dos glóbulos vermelhos. O tipo AB, por sua vez, é resultado da combinação dos dois.
Essas variações não surgiram por acaso. Estudos sugerem que elas foram moldadas por uma poderosa força evolutiva: a luta contra infecções.
A ciência já demonstrou que diferentes tipos sanguíneos conferem vantagens específicas na resistência a doenças. O tipo O, por exemplo, está associado a uma maior proteção contra formas graves de malária, o que explicaria sua alta prevalência em regiões da África e da América Latina.
Já o tipo A pode oferecer certa resistência a bactérias específicas, embora também esteja ligado a maior risco de outras infecções. O tipo B, mais comum na Ásia, também pode ter evoluído como resposta imunológica a doenças locais.
Em outras palavras, nossos grupos sanguíneos contam uma história de sobrevivência: populações em diferentes partes do mundo foram moldadas por epidemias e pressões ambientais que favoreceram certos perfis genéticos.
Outro elemento importante é o fator Rh, uma proteína que também está presente (ou ausente) nos glóbulos vermelhos. Cerca de 85% da população mundial é Rh positivo, mas os 15% que são Rh negativo têm origens misteriosas e evolutivas.
Embora o Rh negativo possa causar complicações em gestações (quando há incompatibilidade entre mãe e bebê), ele também pode ter oferecido alguma vantagem imunológica ainda não totalmente compreendida, o que explicaria sua persistência em populações europeias.
O sangue como mapa da humanidade
A distribuição dos tipos sanguíneos pelo mundo forma um verdadeiro mapa genético da história humana. Mais do que uma simples curiosidade médica, esses grupos revelam como diferentes populações se adaptaram às ameaças do ambiente, às mudanças climáticas e às migrações.
Conhecer essas origens também ajuda a medicina moderna a salvar vidas — por meio de transfusões seguras, doações compatíveis e cuidados específicos em gestações.
A próxima vez que você olhar para sua carteira de doador ou responder “qual seu tipo sanguíneo?”, lembre-se: essa pequena informação carrega milhões de anos de história evolutiva e uma batalha constante contra as doenças.