O auditório do Ministério Público do Rio Grande do Sul ficou completamente lotado na última segunda-feira (12) durante o 1º Seminário de Combate à Pedofilia e ao Abuso Infantojuvenil, idealizado pela deputada estadual Adriana Lara (PL) — presidente da Frente Parlamentar de Combate à Pedofilia na Assembleia Legislativa — em parceria com o Ministério Público.
O evento, inédito no Estado, simbolizou uma ruptura com o silêncio que ainda cerca esse crime tão cruel. Reuniu delegações de mais de 30 municípios gaúchos, com a participação expressiva de conselheiros tutelares, professores, diretores de escola, assistentes sociais, lideranças comunitárias, especialistas em proteção infantil e agentes políticos.
A deputada Adriana Lara destacou que o objetivo foi justamente “tirar do silêncio o que muita gente ainda prefere fingir que não vê. Esse seminário é um grito coletivo contra a covardia. A pedofilia precisa sair do silêncio. A cada denúncia feita, uma criança é protegida. A cada omissão, uma infância é violada.”
Entre os 11 painelistas, a palestra mais aguardada foi a do doutir em políticas públicas, Maurício Cunha, atual diretor de país da organização internacional ChildFund Brasil. Com uma fala impactante, Maurício trouxe dados alarmantes, reflexões profundas e caminhos concretos para a construção de políticas públicas eficazes de proteção à infância.
Ao longo do seminário, os especialistas defenderam medidas urgentes, como:
-Melhoria na estrutura dos Conselhos Tutelares;
-Maior envolvimento das escolas, que têm papel essencial na identificação e visibilidade dos abusos;
-E a adoção da castração química para pedófilos, medida polêmica, mas que voltou ao centro do debate diante da reincidência de agressores e da urgência em proteger as vítimas.
Outro ponto central do seminário foi o dado estarrecedor de que mais de 80% dos casos de abuso sexual infantil acontecem dentro do ambiente familiar, muitas vezes praticados por pessoas de confiança da criança. “Onde o silêncio reina, o crime prospera. E o silêncio — nesses casos — é cúmplice. Precisamos romper essa cultura da omissão”, destacou um dos painelistas.
O evento contou ainda com a presença dos deputados federais Sanderson e Zucco, que reafirmaram seu apoio à causa e à necessidade de uma articulação nacional para o combate à pedofilia.
A próxima etapa da mobilização será a criação de comitês municipais voluntários, que irão promover campanhas educativas, ações de conscientização e fortalecer a rede de proteção à infância.
O Brasil ainda fecha os olhos?
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou, em 2023, mais de 70 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, sendo mais de 60% das vítimas meninas entre 0 e 13 anos. No Rio Grande do Sul, foram mais de 3 mil casos notificados no último ano. A maioria desses crimes ocorre dentro de casa — e os agressores geralmente fazem parte do círculo íntimo da vítima.
“O Brasil não pode mais fingir que esse problema não existe. Precisamos de políticas públicas firmes, rede de apoio estruturada e uma sociedade mobilizada. Essa luta é de todos nós”, finalizou Adriana Lara.