A partir de maio de 2025, empresas brasileiras terão que avaliar riscos psicossociais no ambiente de trabalho. A mudança é reflexo de uma realidade urgente: o sofrimento mental silencioso que afeta milhões de trabalhadores no país.
Horas a mais no expediente. Pressão por metas inalcançáveis. Falta de reconhecimento. Ambientes hostis, competitivos e, muitas vezes, abusivos. Essa é a rotina de milhares de trabalhadores brasileiros que, por trás do crachá, carregam dores invisíveis: ansiedade, estresse crônico, insônia, síndrome de burnout, entre tantas outras marcas emocionais deixadas por ambientes de trabalho adoecidos.
Foi pensando nisso que o Ministério do Trabalho atualizou a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), a base das diretrizes de segurança e saúde no trabalho no Brasil. A mudança mais significativa veio no capítulo que trata do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), que agora inclui, de forma explícita, a obrigatoriedade de avaliar e prevenir riscos psicossociais nos ambientes corporativos.
A partir de 26 de maio de 2025, todas as empresas terão que considerar fatores como estresse, assédio moral, sobrecarga emocional, isolamento, medo constante de demissão, cobrança excessiva e conflitos interpessoais como riscos reais à saúde do trabalhador, tão perigosos quanto um maquinário mal operado ou a exposição a agentes químicos.
Por que a NR-1 foi atualizada?
O avanço das doenças ocupacionais de origem emocional se tornou uma epidemia silenciosa. Dados da OMS apontam que o Brasil é o país com maior prevalência de transtornos de ansiedade no mundo, e os transtornos mentais já são uma das principais causas de afastamento pelo INSS.
Diante desse cenário, a nova NR-1 representa um marco importante. Ao incluir os riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), o governo estabelece que não basta apenas fornecer EPIs e garantir integridade física, é preciso cuidar também do impacto emocional que o ambiente de trabalho pode causar.
As dores que ninguém vê, mas muitos sentem:
Para quem já sofreu com crises de ansiedade por conta de uma chefia abusiva, acordou todos os dias com medo de ir trabalhar, ou simplesmente não conseguia desligar a mente do trabalho mesmo nos momentos de descanso, essa mudança pode parecer tardia, mas é extremamente necessária.
Funcionários que enfrentam esse tipo de desgaste psicológico frequentemente relatam:
Falta de concentração e produtividade;
Sentimento de culpa por não “dar conta”;
Distúrbios de sono e alimentação;
Crises de choro ou de raiva no ambiente de trabalho;
Sensação de estar sempre no limite, prestes a explodir.
O impacto disso vai além da saúde individual: afeta a cultura organizacional, gera afastamentos, turnover e queda de desempenho. Em última análise, a negligência com a saúde mental é um prejuízo coletivo, humano e financeiro.
O que as empresas devem fazer?
A mudança na NR-1 é um chamado para a gestão responsável e humanizada. As empresas terão que incorporar avaliações psicossociais em seus programas de SST (Segurança e Saúde no Trabalho), promovendo ações preventivas e canais de escuta, além de treinamentos e fortalecimento da liderança.
A boa notícia? Prevenir é sempre mais barato, e mais eficiente, do que remediar.
Mais do que uma exigência legal, essa mudança é um convite à empatia. À criação de ambientes mais humanos, seguros e saudáveis. Afinal, nenhum lucro justifica o adoecimento de quem sustenta uma empresa com seu trabalho diário.
Agora, cabe às lideranças olharem com mais atenção para quem sempre esteve lá ,mas muitas vezes, sofrendo em silêncio.