COLUNA| “A culpa é sempre da mulher”

Repercute nesta semana o caso da delegada de Polícia do Estado do Rio de Janeiro que denuncia ter sofrido violências diversas, inclusive sexuais, de parte de seu então marido, um tenente-coronel que atuava como coordenador do Departamento de Segurança Institucional do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio de Janeiro-Espírito Santo).

De acordo com relatos recentes da delegada, além de tê-la estuprado mais de uma vez, o seu então marido ainda fazia violência psicológica e ainda a humilhava com ironias e deboches. Entre 2021 e 2022, a mulher relatava esses fatos a uma amiga, por meio de mensagens.

Com o caso vindo à tona por meio de reportagens, com entrevistas com a vítima, do portal G1 e do programa Fantástico, como normalmente ocorre, começaram “julgamentos” do caso por usuários de redes sociais. Nenhuma surpresa até aqui.

Também já não me surpreende mais – e sempre lamentarei – a inversão que muitas pessoas (inclusive mulheres) fazem em casos de violência contra a mulher, atribuindo a culpa à vítima.  Já ocorreu em outras colunas que escrevi, tanto sobre violência doméstica quanto sexual nas quais os envolvidos eram homens famosos.

Nestes casos, várias pessoas culparam as mulheres, dizendo que elas os “provocaram”, tipo “deram mole” (como se isso justificasse agressões, ainda mais estupros) ou que “armaram contra os acusados e que estes teriam sido vítimas de tais armações”.

Agora, no caso da delegada, vejo outra forma de crítica a vítima, com a tentativa de diminuí-la ou até mesmo desmoralizá-la (ao mesmo tempo em que o agressor é deixado de lado), mediante a afirmação de que ela foi omissa ou até mesmo conivente, por ter demorado a denunciar o caso.

Muitas pessoas precisam aprender o significado e colocar em prática a palavra empatia: “capacidade de se colocar no lugar do outro”. Como condenar uma pessoa em tais situações por não ter denunciado antes, sem saber o que se passa em seu interior? Medo? Pressão psicológica?  Vergonha devido aos padrões e aos estigmas estabelecidos pela sociedade? Acredito que só quem passou por violência física e psicológica pode ter uma dimensão das dificuldades enfrentadas.

Por isso que insisto que é preciso que seja trabalhada uma mudança em determinados paradigmas sociais, isso desde os primórdios da educação, no seio familiar, na escola, nas comunidades, para que sistemas de crenças e valores como o machismo, o patriarcado, o racismo, o sexismo e outras formas de preconceitos, estereótipos e dominação sejam superados.

 

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